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Os desafios para manter a saúde mental em tempos de pandemia de Covid-19.
Jornalista Responsável: Paula Di Leone - Psicóloga Angela Cauduro de Castro - CRP 07/08008

Em 2020, o mundo inteiro foi colocado à prova: diante de um inimigo desconhecido, que surgiu de forma repentina e se espalhou rapidamente pelos quatro cantos da Terra, todos foram pegos de surpresa. O novo coronavírus abalou (e ainda abala) estruturas sociais, econômicas e psíquicas e colocou as pessoas em estado constante de alerta.
Nem mesmo os gestores públicos mais visionários poderiam imaginar que uma doença viral causaria um desequilíbrio tão grande em tantas esferas da sociedade. Não que esse filme seja novo, afinal o mundo já viveu situação parecida no decorrer da história, como a epidemia de influenza H1N1 de 1918 (mais conhecida como Gripe Espanhola) que provocou a morte de até cinquenta milhões de pessoas.
Mas com a epidemia iniciada em 2020, o quadro ganhou nuances ainda mais dramáticas. A inicial incerteza diante dos riscos de contaminação, o receio pelo esgotamento da capacidade hospitalar, as inseguranças pelo fechamento de negócios, empresas e escolas e da eventual perda do ganha-pão abalaram estruturas. E o fator que cerca tudo isso é a cereja do bolo: o isolamento social.
A Universidade Brigham Young, dos Estados Unidos, apontou em um estudo que a ausência de contatos sociais é tão prejudicial à saúde quanto fumar 15 cigarros por dia. O motivo é uma característica natural do ser humano: ser social. Para produzir hormônios de felicidade e bem-estar e viver com plenitude, a humanidade depende das interações com sua comunidade.
E quando o único remédio para prevenir e conter a propagação da Covid-19 é se isolar em casa, outros riscos para a saúde vem à tona.

A mudança de rotina.
Em um dia, você pega o carro ou ônibus e sai para trabalhar. Leva as crianças na escola, almoça em um restaurante no intervalo, e ao final do dia retorna à sua casa para reencontrar a família e descansar. No final de semana, você sai para um bar com amigos, onde conversam sobre tudo e dão boas risadas. E ninguém está usando máscaras.
De repente, essa rotina muda drasticamente. Agora as crianças estão tendo aula remota e você está trabalhando de casa. Toda a família está reunida, mas você não consegue dar tanta atenção aos pequenos e precisa se concentrar para trabalhar com um nível de produtividade igual ou maior do que antes.
Este é apenas um dos inúmeros retratos gerados na pandemia de Covid-19. Afinal, há ainda as pessoas cujas ocupações não permitem trabalho remoto, como alguns profissionais de saúde. Apesar das diferentes realidades, o sentimento de insegurança e medo pelo futuro próximo é geral.
A consequência disso é uma saúde mental fragilizada. Conforme um estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), o distanciamento social forçado fez com que os casos de ansiedade e estresse mais do que dobrassem, enquanto os de depressão aumentaram 90%. O drama acomete ainda mais as mulheres, que acumulam tarefas domésticas, profissionais e com os filhos, e ficam sobrecarregadas.

Sintomas do desequilíbrio.
Estudiosos vêm se debruçando na tentativa de reunir dados e análises que permitam entender os efeitos desse momento da sociedade e os reflexos que isso ainda deve causar nos próximos anos. Até então, foi possível fazer um breve comparativo com a epidemia de Sars de 2003, que apresentou consequências psicológicas tão ou mais graves do que as provocadas pela doença em si.
Já se percebe o medo generalizado com relação à imprevisibilidade da duração da pandemia e à rápida disseminação do vírus. A população sofre com o receio de morrer, de infectar outras pessoas, de se afastar ou sofrer abandono nas relações, de perder o emprego ou ter cortes salariais, além do cansaço por estar confinada. Já os profissionais de saúde enfrentam o medo de contrair a doença e transmiti-la a seus familiares, de quem precisam ficar afastados, além de estresse e completo esgotamento diante de um volume de trabalho extraordinário.
A pesquisa “ConVid Comportamentos”, realizada em 2020 pela Fiocruz, Unicamp e UFMG, verificou que, dos mais de 45 mil participantes, 40% apontaram sentimentos de tristeza ou depressão, enquanto 52,6% afirmaram sentir nervosismo ou ansiedade com frequência.
Um outro estudo feito na China ainda no início da pandemia entrevistou 1.210 pessoas de 194 cidades e revelou a presença de sintomas moderados a severos de ansiedade, depressão e estresse. Por outro lado, a obtenção de informações precisas sobre a situação da doença, formas de prevenção e tratamento se mostraram fatores tranquilizadores e capazes de reduzir esses sintomas.

Psicoterapia em foco.
O cenário de pandemia apresenta grande potencial para desencadear desequilíbrios psicológicos, e é aí que entra o papel dos psicoterapeutas: diminuir o sofrimento emocional e evitar que os sintomas se transformem em transtornos. Diante da não recomendação para atendimentos psicológicos face a face, a tecnologia tem se mostrado uma importante aliada para garantir a manutenção da saúde mental por meio do atendimento psicológico de forma remota. Desde que foi liberado pela Resolução CFP nº 4/2020, em março de 2020, o teleatendimento vem sendo uma ferramenta importante de acolhimento para pessoas que sofrem e buscam ajuda especializada. De acordo com Davis Mohr, Diretor do Centro de Tecnologias de Intervenção Comportamental da Feinberg School of Medicine of Northwestern University, a psicoterapia on-line é essencialmente tão eficaz quanto a psicoterapia presencial. Segundo a psicóloga Angela Cauduro de Castro, a psicoterapia propõe aliviar o sofrimento emocional, oferecendo escuta ativa com o objetivo do autoconhecimento e, em consequência, formas de enfrentamento mais adequadas da realidade.
No que diz respeito a profissionais de saúde atuantes na linha de frente, os cuidados com a mente ainda levam em conta os desafios específicos enfrentados por eles, como atender pacientes com Covid-19, lidar com pessoas que não compreendem as recomendações ou se recusam a aderir ao tratamento, a frustração por não conseguir salvar vidas, o afastamento da rede de apoio e o cansaço físico e mental.

Mas além disso, o que fazer para ficar em dia com a saúde mental?
– Autocuidado: crie estratégias para cultivar o bem-estar psicológico, como a organização da rotina de atividades em condições seguras, o cuidado com o sono, a prática de atividades físicas e técnicas de relaxamento;
– Não fique sozinho: fortaleça conexões com a rede de amigos, familiares e colegas de trabalho, ainda que os contatos não ocorram face a face, mas estimule que aconteçam pela internet, mensagens ou telefonemas;
– Informação sem excesso: cuide a exposição excessiva a informações, incluindo noticiários na televisão e em outras mídias, e fique atento diante da veracidade das informações.


Referências:
Schmidt, B., Crepaldi, M. A., Bolze, S. D. A., Neiva-Silva, L., & Demenech, L. M. (2020). Saúde mental e intervenções psicológicas diante da pandemia do novo coronavírus (COVID-19). Estudos de Psicologia (Campinas), 37, e200063. http://dx.doi.org/10.1590/1982-0275202037e200063


BIERNATH, André. A epidemia oculta: saúde mental na era da Covid-19. Veja Saúde. Disponível em: https://saude.abril.com.br/mente-saudavel/a-epidemia-oculta-saude-mental-na-era-da-covid-19/


ESTADO, Agência. Pandemia de covid-19 faz dobrar casos de ansiedade, diz pesquisa. R7. Disponível em: https://noticias.r7.com/saude/pandemia-de-covid-19-faz-dobrar-casos-de-ansiedade-diz-pesquisa-09052020


Arantes, José. O agravamento dos transtornos mentais durante a pandemia. Disponível em https://agencia.fapesp.br/o-agravamento-dos-transtornos-mentais-durante-a-pandemia/34505/#:~:text=Entre%20os%20fatores%20decorrentes%20da,com%20familiares%3B%20afastamento%20da%20rede

GREENBAUM, Zara. How well is telepsychology working? American Psychological Association. Disponível em https://www.apa.org/monitor/2020/07/cover-telepsychology

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