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Maternidade: a base de tudo.
Paula Di Leone - Jornalista | Angela Cauduro de Castro - Psicóloga Técnica Responsável pela Clinicar.

O que há de mais belo na primeira infância é também o que há de mais delicado e frágil. Afinal, nossos primeiros dias e meses de vida são também nosso momento de maior vulnerabilidade no mundo. Quando estamos ali, na forma de um bebê desprotegido e sem qualquer conhecimento sobre o ambiente externo, a primeira pessoa a nos acolher costuma ser a mãe.

Por ser o primeiro ser vivo que vemos e sentimos quando chegamos ao mundo, a mãe é também o primeiro contato social deste indivíduo que ainda vai se formar, desenvolver a própria personalidade e a própria psique. Vem daí a imensa importância da figura materna na vida de qualquer pessoa, já que muito da construção da própria identidade é decorrente de experiências e estímulos proporcionados ainda na época do berço. É claro que fatores genéticos e intrínsecos ao indivíduo também são determinantes, mas o impacto direto do comportamento da mãe para com o bebê merece destaque.

A relação mãe e filho é tão intensa, profunda e repleta de nuances que a forma como se dá a dinâmica entre esses dois pode acarretar todo tipo de desfecho na vida adulta deste filho. É na primeira infância que os níveis de traumas, inseguranças, percepções, relações, medos e desejos começam a ser moldados. Para o psicanalista D. W. Winnicott, o adulto saudável é fruto de uma infância onde puderam ser construídos os alicerces da sua saúde psíquica.

Nascimento biológico x psicológico 

O primeiro desafio de qualquer mãe é permitir e proporcionar que seu bebê se constitua como um sujeito independente. Para a psiquiatra Margaret Mahler, o nascimento biológico não coincide com o psicológico, pois o desenvolvimento mental e o físico acontecem em tempos diferentes. Nas primeiras semanas após o parto, o bebê ainda está respondendo apenas aos estímulos fisiológicos, às suas necessidades básicas e involuntárias, de forma que as experiências externas e cognitivas ainda não ganham importância. Entre o primeiro e o quarto mês de vida, ele se sente tão unido à mãe que é como se ambos fossem um só: a presença física da mãe satisfaz necessidades emocionais profundas da criança, e o amor se manifesta essencialmente em aspectos físicos, já que o colo e o aconchego proporcionam um ambiente psicológico primordial para seu desenvolvimento emocional.

É na etapa seguinte que começa o processo de diferenciação. Aos poucos, quando a criança passa a perceber os estímulos do mundo externo, principalmente junto aos cuidados da mãe, ela também começa a se entender como parte desse universo. Nesse momento, que costuma durar até o terceiro ano de idade, o bebê vai entendendo quem é sua mãe e quem ele é, dando, assim, o primeiro passo para a independência psíquica e para o nascimento psicológico.

Ansiedade de separação 

Quando a criança avança em direção à autonomia e ao entendimento da própria existência em relação à mãe e ao mundo, a condução materna torna-se ainda mais importante. Quer dizer, é importante alcançar um equilíbrio entre aceitar essa crescente autonomia, mas ainda assim dar ao filho a atenção e o apoio necessários para que não se sinta desamparado. Dependendo da forma como este período é vivenciado, pode surgir a chamada ansiedade de separação, ou seja, quando o bebê percebe que a mãe não estará o tempo inteiro com ele, e sente-se só e perdido no mundo.

Esse sentimento acomete crianças de diversas idades, com uma espécie de medo de que, estando longe dos pais, eles iriam morrer ou algo muito grave poderia acontecer, causando muito sofrimento para ir à escola, por exemplo. Para evitar esses medos, é necessário estabelecer, desde o início, uma relação em que a criança se sinta confiantesobre a constância da mãe, além de uma rede de apoio psicológico que mostre que existem outras pessoas de confiança para cuidar dela, como o pai, avós, cuidadores, professores, entre outros, explicitando ainda que mesmo que a mãe se ausente em algum momento, ela sempre retorna.

Uma mãe suficiente 

Conforme Winnicott, o conceito “mãe suficientemente boa” é complexo, mas tem a ver com ser uma mãe que frustra e gratifica o filho na medida em que vive a experiência de maternidade. Para o autor, essa mãe aceitagenuinamente as expressões do bebê, como a fome, os incômodos, o prazer, o desejo, e não lhe impõe o que pensa ser o certo, permitindo ao filho ter experiências nas quais ele é sempre sujeito e protagonista. Assim, o bebê forma seu verdadeiro self – um corpo físico somado a processos de pensamento e a uma experiência consciente de ser alguém único e que se diferencia dos outros.

Nos primeiros meses e anos, ela proporciona a rede de acolhimento físico, oferecendo a proteção da qual ele necessita; na sequência, é a responsável por apresentá-lo ao mundo, mediando a realidade externa e criando nele esperança e confiança de que esse mundo pode ser tão agradável quanto aquele de dentro de casa.

A mãe suficientemente boa é também capaz de se adaptar às necessidades do bebê para que ele não perceba que o mundo já estava lá antes dele ser concebido ou tivesse contato com ele. Mas é também aquela que, ao mesmo tempo, precisa expor ao filho que ele não é o centro do universo, mas que precisa inserir-se nele para, no futuro, ser um cidadão que contribua com a sociedade.

Apoio da psicoterapia

Tornar-se mãe é um processo que surge a partir do nascimento do primeiro filho. Porém, ao mesmo tempo em que traz muitas alegrias relacionadas a concretização de um desejo de muitas mulheres, também pode gerar medos e inseguranças oriundos de uma condição, até então, desconhecida e que exige grande responsabilidade. Afinal, ser mãe diz respeito a acolher, cuidar, orientar e amar um outro ser frágil, desamparado e dependente. Cada mulher vivencia esta experiência de acordo com o seu momento de vida, características de personalidade, representações de seus vínculos iniciais, além de fantasias relacionadas ao filho que está sendo gerado. Assim, a condução materna na primeira infância somada a atributos genéticos e/ou ambientais resultará no desenvolvimento de uma saúde mental mais ou menos saudável.

Independentemente do nível ou tipo de sofrimento emocional que se estiver experimentando como traumas, inseguranças e dificuldades de relacionamento, a psicoterapia pode ajudar. O trabalho desenvolvido pelo terapeuta consiste em um suporte especializado que pode ressignificar relações com figuras parentais, neutralizando desequilíbrios que se iniciaram ainda na primeira infância. Por vezes, a terapia funciona como um “exercício de parentalidade”, de modo que o psicoterapeuta e o paciente realizam um trabalho colaborativo que visa auxiliar o paciente a se reconectar com seu self perdido e inserir-se no mundo com plenitude.

Além disso, o psicólogo pode auxiliar mães ou futuras mães a pensar a respeito da nova condição de maternidade, por exemplo em casos de um bebê recém-chegado ou de uma adoção, quando é preciso adaptar-se a essa nova realidade. Com um olhar diferenciado, esse profissional contribui para tornar o processo mais tranquilo,proporcionando serenidade para o exercício da maternidade.

 

Referências:

MACHADO, Paulo Emanuel. A mãe suficientemente boa. Psicologias do Brasil. Disponível em: https://www.psicologiasdobrasil.com.br/mae-suficientemente-boa/

PRESTES, Adriane. Teoria de Margaret Mahler: Conceitos fundamentais, processo de separação e Individuação. UNIFTEC. Disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/80323900/teoria-de-margarete-mahler

GRASSANO, Tania. Ansiedade de Separação. Bee Family. Disponível em: https://beefamily.com.br/ansiedade-de-separacao/

RIBEIRO, Anna; CAROPRESO, Fatima. A teoria de Margaret Mahler sobre o desenvolvimento psíquico precoce normal. Psicol. rev. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-11682018000300014&lng=pt&nrm=iso

MACEDO, Lídia Suzana Rocha de; SILVEIRA, Amanda da Costa da. Self: um conceito em desenvolvimento. Paidéia. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X2012000200014&lng=en&nrm=iso

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